…Vá e faça o mesmo.
Lucas 10:37b
Reflexão: A Anatomia do Amor que Age
Nosso cérebro é uma máquina de criar caixas. “Perto”, “longe”. “Amigo”, “inimigo”. “Da minha igreja”, “do mundo”. “Merece ajuda”, “não merece”. Passamos a vida categorizando pessoas para definir o alcance da nossa responsabilidade. Foi com essa mesma mentalidade que um perito na lei, querendo se justificar e limitar seu dever, perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?”. Ele queria que Jesus desenhasse uma linha, um limite. “Ame até aqui”, ele esperava ouvir. A resposta de Jesus, na forma da parábola do Bom Samaritano, não apenas apaga essa linha, mas vira todo o nosso mapa de cabeça para baixo.
A história é conhecida: um homem é assaltado, espancado e deixado quase morto à beira do caminho. Passa um sacerdote, um líder religioso. Ele vê e atravessa para o outro lado. Passa um levita, um auxiliar do templo. Vê e faz o mesmo. A religião deles, cheia de regras e rituais, não produziu compaixão. Talvez estivessem com pressa para um compromisso no templo, talvez temessem se contaminar ritualmente ao tocar em um corpo que poderia estar morto. A verdade é que a religião deles se tornou uma desculpa para não amar. Eles representam o perigo de um conhecimento bíblico que não se transforma em ação.
É então que surge a figura mais improvável: um samaritano. Para os judeus da época, samaritanos eram inimigos, mestiços, impuros. E o que ele faz? Vê o homem e é “movido de íntima compaixão”. A partir daí, Jesus nos dá uma verdadeira aula, uma anatomia do amor ao próximo. Podemos dividi-la em três atitudes fundamentais.
As 3 Atitudes do Verdadeiro Amor ao Próximo
1. Ele VÊ com Compaixão (O Coração)
O sacerdote e o levita também viram a vítima, mas seus olhos apenas registraram um problema a ser evitado. O samaritano viu um ser humano em dor e seu coração se compadeceu. O verdadeiro amor ao próximo começa aqui: na capacidade de enxergar a necessidade do outro e se deixar afetar por ela. É sair da bolha da indiferença e permitir que a dor do outro se torne, em alguma medida, a nossa dor. Sem compaixão, qualquer ajuda é mera filantropia ou obrigação religiosa.
2. Ele AGE com Sacrifício (As Mãos)
A compaixão do samaritano não ficou no campo dos sentimentos. Ela se tornou ação imediata e custosa.
- Ele usou seus próprios recursos (vinho e óleo para limpar as feridas).
- Ele sacrificou seu conforto (colocou o homem em sua própria montaria).
- Ele alterou seus planos (interrompeu sua viagem para levá-lo a uma hospedaria).
- Ele investiu seu dinheiro (pagou ao hospedeiro).
O amor ao próximo genuíno sempre tem um custo. Ele nos custa tempo, dinheiro, conveniência e conforto. É um amor que não pergunta “o que eu ganho com isso?”, mas “o que eu posso dar?”. É um amor que arregaça as mangas e se dispõe a se sujar para ajudar.
3. Ele GARANTE a Continuidade do Cuidado (O Compromisso)
O samaritano poderia ter deixado o homem na hospedaria e seguido seu caminho, sentindo que já tinha feito sua parte. Mas ele foi além. Ele disse ao hospedeiro: “Cuide dele, e o que você gastar a mais, eu lhe pagarei quando voltar”. Isso demonstra um amor que não é apenas um ato isolado, mas um compromisso com a restauração do outro. É um amor responsável, que pensa no “depois”.
No final, Jesus inverte a pergunta. Ele não diz quem era o próximo do homem ferido. Ele pergunta: “Qual destes três provou ser o próximo?”. A questão não é “Quem é digno do meu amor?”, mas “De quem eu serei um próximo?”.
Essa parábola é um espelho para nós. O homem na beira do caminho é cada um de nós, deixado para morrer pelo pecado. A religião e a lei (o sacerdote e o levita) passam de longe, incapazes de nos salvar. Mas Jesus, o verdadeiro Bom Samaritano, Aquele que era desprezado, veio até nós. Ele se compadeceu, tratou nossas feridas com Seu próprio sangue, nos colocou em segurança e pagou o preço total pela nossa restauração.
O Seu comando para nós, que fomos resgatados por Ele, é simples e direto: “Vá e faça o mesmo.”
Sugestão de Música:
A canção “Coração Igual ao Teu” do ministério Diante do Trono é uma oração que se encaixa perfeitamente na lição do Bom Samaritano. A letra “Ensina-me a amar o meu irmão, a olhar com Teus olhos, perdoar com Teu perdão” é um clamor pelo coração compassivo que o samaritano demonstrou, pedindo a Deus que nos dê Seus olhos para ver e Seu amor para agir em favor do nosso próximo.