Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem.
Efésios 4:29
Reflexão: O Manual Divino para a Comunicação que Edifica
Pense em um canteiro de obras. Com as mesmas mãos, um construtor pode pegar tijolos e erguer uma parede forte e segura, ou pode pegar uma marreta e derrubar essa mesma parede em segundos. Nossas palavras são as ferramentas mais poderosas que possuímos. A cada conversa, a cada comentário, a cada mensagem de texto, estamos fazendo uma escolha: estamos construindo algo de valor na vida de alguém ou estamos demolindo? O apóstolo Paulo, em Efésios, não nos deixa em dúvida sobre qual é a vontade de Deus. Ele nos entrega a planta para uma Comunicação que Edifica.
O princípio fundamental está no versículo 29, que serve como um filtro de três partes para tudo o que dizemos. Antes de falar, a sabedoria divina nos convida a perguntar:
- Isso Edifica? A palavra “edificar” significa “construir”. Minhas palavras serão um tijolo na construção da fé, da autoestima e do caráter de alguém, ou serão uma marreta que abre rachaduras de dúvida, dor e desânimo?
- Isso é Necessário? A instrução é que a palavra seja útil “conforme a necessidade”. Isso exige sensibilidade. Nem toda verdade precisa ser dita, e certamente não a qualquer momento. Uma palavra de exortação pode ser edificante, mas se for dita na hora errada, pode demolir. A sabedoria está em discernir a necessidade do momento e da pessoa.
- Isso Transmite Graça? A palavra final deve ser um presente, não um peso. Ela deve “conceder graça aos que a ouvem”. Mesmo uma correção, quando feita em amor, pode ser um presente de graça. Nossas palavras devem deixar a pessoa se sentindo mais próxima da graça de Deus, não mais longe dela.
Paulo entende que essa mudança na comunicação não é apenas uma questão de técnica, mas de coração. Por isso, ele nos dá um manual de “reforma” interior, mostrando o que precisa ser demolido e o que precisa ser construído em nosso caráter para que nossas palavras sejam naturalmente edificantes.
Manual da Construção Espiritual
Este manual prático nos mostra como limpar o terreno do nosso coração para, então, erguer uma estrutura de comunicação que agrada a Deus.
Parte A: O Entulho a ser Removido (Efésios 4:31)
Antes de construir, é preciso demolir o que é podre. Paulo nos manda abandonar o “entulho” que gera palavras destrutivas:
- Amargura: O ressentimento silencioso que envenena a alma e vaza em comentários ácidos e sarcasmo.
- Indignação e Ira: A raiva explosiva que usa palavras como armas para ferir e controlar.
- Gritaria: A tentativa de vencer pelo volume, intimidando e demolindo a paz.
- Calúnia (Maledicência): O hábito de falar mal dos outros pelas costas, assassinando reputações com a língua.
- Toda Maldade: A raiz de tudo isso – a intenção deliberada de ferir, diminuir ou humilhar o outro.
Parte B: A Estrutura a ser Construída (Efésios 4:32)
Com o terreno limpo, podemos começar a construir com os materiais certos:
- Bondade: A decisão ativa de usar nossas palavras para fazer o bem, para encorajar, para elogiar, para ajudar.
- Compaixão (Misericórdia): A capacidade de falar com um coração que se compadece, que entende a fraqueza alheia e oferece consolo em vez de julgamento.
- Perdão Mútuo: A atitude que libera o outro da dívida e restaura a comunicação. É o alicerce que permite que o relacionamento seja reconstruído após uma falha.
E qual é a força que nos capacita a fazer essa obra? Paulo a revela no final: “…assim como Deus os perdoou em Cristo.” Esta é a nossa motivação e o nosso poder. Não somos bons, compassivos e perdoadores para sermos perdoados por Deus, mas porque já fomos perdoados por Ele. A nossa comunicação que edifica é o transbordar de um coração que foi, ele mesmo, edificado pela graça incompreensível de Jesus Cristo.
Que hoje possamos entregar nossas ferramentas de demolição aos pés da cruz e pedir ao Mestre de Obras que nos ensine a construir vidas, relacionamentos e, acima de tudo, a Sua Igreja, uma palavra de cada vez.
Sugestão de Música:
A canção “Sonda-me, Usa-me” de Aline Barros, embora não seja explicitamente sobre palavras, é uma oração pela transformação do coração, que é a fonte de toda comunicação. A letra “Sonda-me, Senhor, e me conhece. Quebranta o meu coração. Transforma-me conforme a Tua palavra” é um clamor pela pureza interior necessária para que de nossa boca saiam palavras que edificam.