Depois de aconselhar-se, o rei fez dois bezerros de ouro e disse ao povo: ‘Vocês já subiram muito a Jerusalém. Aqui estão os seus deuses, ó Israel, que os tiraram do Egito!’
1 Reis 12:28
Reflexão: A Anatomia do Medo que Gera Idolatria
O medo é um péssimo conselheiro. Especialmente o medo de perder o controle. Quando sentimos que a segurança, a lealdade ou o futuro que tanto desejamos estão ameaçados, nosso primeiro impulso é construir nossas próprias soluções. Criamos estratégias, erguemos “muros” de proteção e tentamos manipular as circunstâncias a nosso favor. Acreditamos que estamos agindo com prudência, mas muitas vezes, estamos apenas construindo altares para o nosso medo. A trágica história de Jeroboão, o primeiro rei de Israel do Norte, é o exemplo bíblico definitivo de como um homem, mesmo com uma promessa divina em mãos, pode se desviar completamente por se render ao medo.
A história de Jeroboão não começa com rebelião, mas com uma promessa gloriosa. Deus, através do profeta Aías, prometeu-lhe o reino sobre dez tribos de Israel e uma dinastia tão duradoura quanto a de Davi, com uma única condição: fidelidade (1 Reis 11:38). Era uma garantia divina, um cheque em branco assinado pelo próprio Criador.
Mas assim que assumiu o trono, o medo começou a sussurrar em seu coração. A lei de Deus ordenava que todo homem em Israel fosse a Jerusalém para as festas anuais e para adorar no Templo. O problema? Jerusalém era a capital do reino rival do Sul. A lógica humana e o medo político de Jeroboão entraram em pânico: “Se este povo for a Jerusalém para oferecer sacrifícios… o coração deles se voltará para o senhor deles, Roboão, rei de Judá. Então eles me matarão e voltarão para ele” (1 Reis 12:27). A voz do medo começou a gritar mais alto que a voz da promessa de Deus.
E aqui vemos, passo a passo, como o medo nos leva à ruína espiritual.
Os 3 Passos do Desvio de Jeroboão
- 1. Ele Consultou o Próprio Coração (em vez de Deus)
O texto diz que, diante do problema, o rei “aconselhou-se” (v. 28). Mas com quem? Com seus próprios medos, com sua própria lógica humana. Ele tinha uma promessa direta de Deus, mas em vez de clamar ao Senhor por sabedoria sobre como lidar com a situação, ele confiou em seu próprio entendimento. Este é sempre o primeiro passo em qualquer desvio espiritual: quando substituímos a consulta a Deus e à Sua Palavra pela consulta aos nossos próprios medos e estratégias.
- 2. Ele Criou uma Adoração de Conveniência
A solução de Jeroboão foi politicamente brilhante, mas espiritualmente desastrosa. Ele criou dois bezerros de ouro – imitando o pecado de Israel no deserto – e os colocou em locais estratégicos, um ao norte e outro ao sul de seu reino. Sua propaganda era sedutora: “Vocês já subiram muito a Jerusalém. Aqui estão os seus deuses!”. Ele ofereceu ao povo uma religião mais fácil, mais próxima, mais conveniente. Ele substituiu a presença de Deus pela proximidade geográfica. Este é um alerta atemporal para nós: toda vez que tentamos tornar o Evangelho mais “conveniente”, removendo a necessidade de sacrifício, arrependimento e obediência, estamos construindo um bezerro de ouro.
- 3. Ele Redefiniu a Santidade Segundo a Sua Vontade
O desvio não parou por aí. Deus havia estabelecido uma linhagem sacerdotal (os levitas) e um calendário de festas sagradas. Jeroboão rompeu com tudo isso. Ele expulsou os levitas e nomeou como sacerdotes “homens de todas as classes do povo, que não eram levitas”. Ele também “instituiu uma festa… que ele inventou em seu próprio coração” (1 Reis 12:31-33). Quando começamos a alterar os padrões de Deus para que se encaixem em nossas necessidades, em nossa política ou em nossa cultura, deixamos de adorar a Deus e passamos a adorar a nossa própria vontade.
A consequência foi trágica. A Bíblia repetidamente se refere ao “pecado de Jeroboão, filho de Nebate, que levou Israel a pecar”. O medo pessoal de um líder, que o levou a uma solução baseada em sua própria lógica, contaminou gerações e, por fim, levou a nação inteira à destruição e ao exílio. Nossos compromissos e desobediências “privados” raramente permanecem privados; eles têm o poder de afetar todos ao nosso redor.
A história de Jeroboão é um chamado à confiança radical. Deus nos deu Suas promessas. A questão é: vamos confiar nelas, mesmo quando as circunstâncias nos enchem de medo? Ou vamos, como Jeroboão, tentar “ajudar” a Deus construindo nossos próprios altares de segurança?
Sugestão de Música:
A canção “Confio em Ti”, de Davi Saver, é o antídoto perfeito para o veneno do medo que consumiu Jeroboão. A letra é uma declaração de fé e dependência: “Mesmo que eu não veja, eu confio em Ti. Mesmo sem saber, eu descanso em Ti… O medo não vai me paralisar”. É uma oração para escolher a promessa de Deus em vez da lógica do medo.