A vida cristã é frequentemente comparada a uma grande viagem. Temos um ponto de partida, a cruz, e um destino glorioso, a eternidade com o Pai. No entanto, entre o porto de partida e o porto seguro, existe o mar aberto. E o mar é imprevisível. Ansiamos por águas calmas e ventos favoráveis, mas a verdade é que todo navegador, em algum momento, enfrentará a fúria da tempestade. A jornada do apóstolo Paulo a Roma, registrada em Atos 27, é talvez a ilustração mais vívida de que estar no centro da vontade de Deus não nos isenta das tempestades, mas nos dá a garantia de que, apesar da fúria das ondas, não haverá naufrágio da alma.
A Tempestade Anunciada e a Voz Ignorada
A viagem de Paulo começa com um alerta. Prisioneiro em um navio de carga, ele, guiado por Deus, adverte os líderes da embarcação sobre os perigos de prosseguir viagem. No entanto, sua voz é ignorada. A maioria, confiando na experiência do piloto e no desejo de chegar a um porto mais confortável, decide arriscar. Aqui aprendemos a primeira lição: Deus sempre coloca “placas de advertência” em nosso caminho, mas a voz da maioria, da conveniência ou da “experiência” humana muitas vezes grita mais alto. Ignorar o conselho divino, por mais ilógico que pareça, sempre traz consequências.
O resultado foi um tufão chamado Euroaquilão. Por catorze dias, o navio ficou à deriva, sem a guia do sol ou das estrelas, a ponto de todos a bordo perderem a esperança de sobreviver.
A Presença de Deus no Coração da Crise
É no auge do desespero que a graça de Deus se manifesta. Um anjo aparece a Paulo e lhe garante: “Não tenha medo… Deus, por sua graça, deu-lhe as vidas de todos os que estão navegando com você”. A promessa não era livrá-los da tempestade, mas preservá-los na tempestade. O navio se perderia, mas a vida seria poupada. Deus nem sempre nos impede de entrar na fornalha, na cova dos leões ou na tempestade, mas Ele sempre entra conosco para nos livrar dentro delas.
Para sobreviver a esses momentos, precisamos nos agarrar a âncoras espirituais, assim como os marinheiros daquele navio.
As 4 Âncoras Espirituais para a Sua Tempestade
- A Âncora da Fé: É a decisão de confiar que Deus cumprirá o que prometeu, mesmo quando o navio da nossa vida está se despedaçando. É crer na promessa, não no problema.
- A Âncora da Adoração: Mesmo no caos, Paulo deu graças a Deus na presença de todos e se alimentou. A adoração em meio à crise é uma declaração de guerra contra o medo. Ela afirma que nosso Deus é maior que qualquer tempestade.
- A Âncora da Oração: A oração é nossa comunicação direta com o Capitão da nossa alma. É através dela que buscamos direção, força e paz quando tudo ao nosso redor é escuridão e barulho.
- A Âncora da Certeza: É a convicção inabalável de que, não importa o que aconteça com o “navio” – nossas finanças, nossa saúde, nossa carreira –, nossa vida eterna está segura em Cristo, e Ele nos levará ao porto seguro.
A Víbora e o Propósito do Naufrágio
Após sobreviverem e chegarem à ilha de Malta, um novo ataque: Paulo é picado por uma víbora. Isso nos ensina que, às vezes, uma crise vem logo após a outra. As pessoas da ilha o rotularam imediatamente: primeiro, como um assassino recebendo sua punição; depois, quando ele não morreu, como um deus. As pessoas sempre tentarão nos definir pelas nossas circunstâncias, mas nossa verdadeira identidade está firmada em quem Deus diz que somos.
E, finalmente, o propósito de tudo é revelado. O naufrágio, que parecia uma tragédia, foi o exato instrumento que Deus usou para levar o Evangelho à ilha de Malta. Paulo curou enfermos, pregou a Palavra e um avivamento aconteceu. A “ilha do nosso naufrágio” – aquela crise, aquela perda, aquela doença – pode ser, na verdade, o nosso maior campo missionário, o lugar exato onde Deus planeja manifestar Sua glória de forma mais poderosa através de nós.
A mensagem é clara e cheia de esperança: tempestade, sim; naufrágio da alma, não. O crente pode perder o navio, mas não perde a vida. Pode enfrentar perdas, mas nunca perde a presença de Deus. Cada crise é um palco para o poder dEle se manifestar.
…’Paulo, não tenha medo. É preciso que você compareça perante César; e Deus, por sua graça, deu-lhe as vidas de todos os que estão navegando com você.’
Atos 27:24
Sugestão de Música:
A canção “Acalma o Meu Coração” de Anderson Freire é uma oração que se encaixa perfeitamente na experiência de Paulo. A letra “Acalma o meu coração, o vento está soprando, mas é Te adorando que venço o mar da aflição” reflete a atitude de adoração e confiança em Deus como o caminho para encontrar paz e vitória, mesmo quando a tempestade ainda ruge.