Defensoria Pública pede retirada de postagem que chama adolescente de criminoso nas redes sociais
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro entrou com um pedido na Justiça para que a Polícia Militar (PM) seja obrigada a remover uma postagem em suas redes sociais em que o adolescente Thiago Menezes, de 13 anos, é chamado de criminoso. Thiago morreu durante uma operação policial na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, e moradores e familiares contestam a versão de confronto com os militares.
O pedido será analisado pela 10ª Vara de Fazenda Pública. A Defensoria argumenta que, mesmo após a PM ter apresentado versões diferentes sobre o ocorrido, o texto continua nas redes. Os defensores alegam que a postagem gerou indignação na mãe do adolescente e que houve violação dos Direitos da Personalidade de Thiago e sua mãe.
Em sua publicação nas redes sociais, a PM afirmou que “um criminoso ficou ferido ao entrar em confronto com policiais do Batalhão de Choque na comunidade da Cidade de Deus, em Jacarepaguá. Com ele, foi apreendida uma arma de fogo. A ocorrência está em andamento”. A postagem conta com uma imagem dos policiais exibindo a arma e trazendo a bandeira do batalhão com o lema “Sangue & Vitória”. Até o momento, a publicação teve mais de 1 milhão de visualizações.
Além disso, a Defensoria também solicita que a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro cesse a repressão ostensiva às manifestações pacíficas em decorrência da morte do adolescente, bem como ao protesto social da mãe.
A Agência Brasil procurou a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro para se posicionar sobre a ação judicial, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
Diferentes versões sobre o caso
Em comunicado oficial na última segunda-feira, a PM afirmou que equipes do Batalhão de Polícia de Choque estavam em policiamento quando dois homens em uma motocicleta atiraram contra a guarnição, sendo um deles o jovem de 13 anos. “Após o confronto, encontraram um adolescente ferido que não resistiu aos ferimentos”, relataram os policiais.
Os moradores da Cidade de Deus apresentaram uma versão diferente do caso. O tio da vítima, Hamilton Bezerra Flausino, disse que Thiago não tinha envolvimento com o crime. A mãe, Priscila Menezes, afirmou que seu filho era uma criança indefesa, que não oferecia perigo e não possuía armas.
Thiago foi atingido por dois tiros disparados pelos militares: um atingiu sua perna e o outro o peito, o que resultou na morte do adolescente. Segundo a Defensoria Pública, os disparos ocorreram por volta das 0h40, na Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, a principal via da Cidade de Deus.
O corpo do adolescente foi velado em uma igreja evangélica da comunidade, a poucos quilômetros de onde ele foi morto. O enterro de Thiago aconteceu na tarde desta terça-feira no Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá.
Protestos contra a violência policial
A morte do jovem causou indignação na comunidade, resultando em um protesto contra a violência policial na noite de segunda-feira. No entanto, a manifestação foi dispersada pelos próprios policiais, que utilizaram spray de pimenta para afastar os manifestantes, como mostram vídeos nas redes sociais.
A Polícia Militar informou que militares do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom) acompanharam a movimentação, prestando apoio à tropa de choque.
A Avenida Salazar Mendes de Moraes, que conecta Jacarepaguá à Barra da Tijuca, foi fechada nos dois sentidos, desde a Estrada dos Bandeirantes, devido aos protestos. Moradores colocaram caçambas de lixo ao longo da avenida, forçando o desvio do tráfego pela Companhia de Engenharia de Tráfego da prefeitura do Rio. O Corpo de Bombeiros foi chamado para apagar os incêndios provocados pelos manifestantes no lixo.
Nesta terça-feira, manifestantes voltaram às ruas para protestar contra a morte de Thiago Menezes. O ato ocupava uma faixa da Rua Edgard Werneck, próximo à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus, conforme informações do Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro, por volta das 18h.
*Com informações da Agência Brasil