Com um superávit comercial recorde, as contas externas do Brasil apresentaram um saldo negativo de US$ 3,605 bilhões em julho, de acordo com o Banco Central. No mesmo período do ano passado, o déficit foi de US$ 5,285 bilhões nas transações correntes, que incluem compras e vendas de mercadorias, serviços e transferências de renda com outros países. A diferença entre os dois anos é resultado do aumento do superávit comercial, que teve um acréscimo de R$ 3,1 bilhões.
Balança comercial e serviços
As exportações de bens totalizaram US$ 29,181 bilhões em julho, uma redução de 3,3% em comparação com o mesmo mês de 2022. As importações, por sua vez, somaram US$ 21,948 bilhões, uma queda de 15,7% em relação a julho do ano passado. A diminuição do valor das exportações se deve à queda dos preços internacionais, enquanto as importações foram reduzidas pelo menor volume importado, especialmente na área de fertilizantes, que está sendo afetada pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Com esses resultados, a balança comercial fechou com um superávit recorde de US$ 7,233 bilhões no mês passado, em comparação com o saldo positivo de US$ 4,130 bilhões em julho de 2022. Já o déficit na conta de serviços, que engloba viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, permaneceu praticamente estável, atingindo US$ 3,174 bilhões em julho.
O déficit na rubrica de transportes apresentou uma redução de 45%, passando de US$ 1,710 bilhão em julho de 2022 para US$ 941 milhões no mês passado. Essa melhora foi impulsionada pela queda nos preços internacionais, que resultou em menor gasto com fretes, além da redução nas exportações e importações. Em relação às viagens internacionais, houve uma trajetória de recuperação, com um crescimento de 45,8% nas receitas de estrangeiros em viagem ao Brasil, alcançando US$ 567 milhões em julho. No entanto, o déficit ainda está abaixo dos níveis pré-pandemia. As despesas de brasileiros no exterior aumentaram 31,9%, passando de US$ 1,049 bilhão em julho de 2022 para US$ 1,384 bilhão no mesmo mês deste ano. O déficit na conta de viagens fechou o mês com um aumento de 23,7%, chegando a US$ 817 milhões.
Quanto ao aluguel de equipamentos, as despesas líquidas somaram US$ 1,033 bilhão, um aumento de 53,1% em relação a julho de 2022. Segundo o chefe do Departamento de Estatística do BC, Fernando Rocha, essa variação não indica uma tendência, mas sim um efeito pontual no mês passado.
Rendas
O déficit em renda primária, que inclui lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários, atingiu US$ 7,733 bilhões em julho, um aumento de 17,7% em comparação com o mesmo mês de 2022. Essa conta geralmente é deficitária devido aos investimentos de estrangeiros no Brasil, que remetem seus lucros para o exterior. As despesas líquidas com juros aumentaram de US$ 3,008 bilhões em julho de 2022 para US$ 3,766 bilhões no mês passado. Já no caso dos lucros e dividendos associados aos investimentos diretos e em carteira, houve um déficit de US$ 3,988 bilhões em julho deste ano, em comparação com US$ 3,575 bilhões em julho de 2022.
No que diz respeito à renda secundária, que se refere a transferências de dólares sem contrapartida de serviços ou bens, houve um resultado positivo de US$ 68 milhões em julho, em comparação com um superávit de US$ 357 milhões em julho do ano passado.
Financiamento
Os investimentos diretos no país (IDP), que haviam registrado números baixos em junho, voltaram a crescer em julho, embora tenham sido menores em comparação com o mesmo período do ano anterior. Eles somaram US$ 4,244 bilhões, em comparação com US$ 1,879 bilhões em junho de 2023 e US$ 7,205 bilhões em julho de 2022. Esse foi o menor resultado de IDP desde julho de 2018, quando alcançou US$ 3,5 bilhões.
No acumulado dos últimos 12 meses, o IDP totalizou US$ 71,663 bilhões em julho de 2023, em comparação com US$ 74,624 bilhões no mês anterior e US$ 61,664 bilhões no período encerrado em julho de 2022.
Quando o país apresenta um saldo negativo nas transações correntes, é necessário cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. O IDP é a forma mais adequada de financiamento para o déficit, pois os recursos são direcionados para o setor produtivo e geralmente são investimentos de longo prazo.
Em relação aos investimentos em carteira no mercado doméstico, houve saídas líquidas de US$ 333 milhões em julho de 2023, sendo US$ 1,701 bilhão em saídas de títulos de dívida e US$ 1,368 bilhão em entradas de ações e fundos de investimento.
O estoque de reservas internacionais chegou a US$ 345,476 bilhões em julho, com um aumento de US$ 1,9 bilhão em comparação com o mês anterior.
Revisão
Os dados mensais divulgados pelo Banco Central são preliminares e passam por revisões ordinárias. A revisão ordinária anual do balanço de pagamentos e da posição de investimento internacional ocorre nos meses de julho e novembro, de acordo com a Política de Revisão das Estatísticas Econômicas Oficiais Compiladas pelo Departamento de Estatísticas do BC. Em função da operação padrão dos servidores do BC, a revisão ordinária deste ano foi publicada em agosto.
A revisão das estatísticas do setor externo resultou em uma redução de US$ 3,4 bilhões no déficit em transações correntes para o ano de 2022, passando de US$ 57 bilhões para US$ 53,6 bilhões. O ingresso líquido de IDP em 2022 também foi revisado para um valor menor, de US$ 4,3 bilhões, em comparação com os US$ 91,5 bilhões anteriores. Essa revisão também teve impacto nas estatísticas do setor externo para o primeiro semestre de 2023, com o déficit em transações correntes sendo revisado para US$ 14,6 bilhões.
Em resumo, as contas externas do Brasil registraram um superávit comercial recorde em julho, impulsionado pelo aumento do superávit comercial. As exportações de bens tiveram uma redução devido à queda dos preços internacionais, enquanto as importações diminuíram devido ao menor volume importado. O déficit na conta de serviços se manteve estável, com redução no déficit em transporte e aumento no déficit em viagens e alug
*Com informações da Agência Brasil