À medida que a Síria continua a lidar com a queda do regime de Bashar al-Assad, há uma mistura de otimismo cauteloso e ceticismo profundo entre os cristãos. Eles parecem alimentar uma esperança frágil para o futuro em meio a anos de conflito, opressão e incerteza. Suas histórias mostram um povo que, após décadas de regime autoritário, está tanto liberto quanto preso, incapaz de se livrar do passado enquanto não tem certeza do que o amanhã reserva. “Percebemos agora a pressão em que estávamos. Agora podemos usar a palavra ‘dólar’, uma moeda estrangeira, sem medo. Estamos experimentando um novo senso de liberdade, algo que nunca conhecemos”, disse um cristão sírio. Anteriormente, mencionar o nome de uma moeda estrangeira era suficiente para condenar alguém no regime de Assad. É uma mudança pequena, mas significativa para um povo acostumado à constante vigilância, no qual uma palavra ou pensamento casual poderia ser perigoso.
“Precisamos ser cautelosos”
No entanto, essa nova liberdade vem com um custo. Para muitos, o futuro parece muito incerto e o risco muito alto. “A visão para o futuro é nebulosa. Estamos enfrentando dois extremos assustadores: o fundamentalismo islâmico de um lado e um perigoso vácuo de poder do outro. Nos últimos 50 anos, nós, como povo e como instituições, não fomos preparados para um país sem o regime de Assad”, disse outro cristão.
Há uma parte da população com menos de 50 anos que nunca viveu em um país sem um Assad no poder. O desafio agora não é apenas sobreviver, mas descobrir como reconstruir um país deixado em pedaços no aspecto social, político e econômico. Alguns se adaptaram, mas o medo está lá.
Há um sentimento de cautela constante. “Fomos pegos de surpresa. Nos sentimos inseguros e não sabemos o que fazer. As coisas parecem calmas na superfície, mas levará tempo para realmente entender o que está acontecendo. Precisamos ser cautelosos, continuar monitorando e oferecer o nosso melhor”, disse outro cristão, que descreveu a transição como acordar de uma anestesia apenas para encontrar uma realidade amarga.
“Queremos acreditar, mas temos medo”
Para alguns, essa abordagem cautelosa significa que monitorar as redes sociais para ver se há sinais de extremismo e mudanças políticas. Eles estão cuidadosamente observando os discursos que possam sugerir isso. Por outro lado, há reuniões entre líderes da oposição e representantes da igreja com promessas de segurança e inclusão para os cristãos da Síria. Mas muitos não estão dispostos a confiar totalmente nessas garantias. “Queremos acreditar neles, mas temos medo. Sentimos que os cristãos na Síria estão sendo usados como uma carta política para garantir um bom relacionamento com o Ocidente”, admitiu um cristão.
O sentimento de ser manipulado, de ter sua lealdade e medos usados por várias facções, é profundo.