Os cristãos deslocados internos são todos os que, devido à perseguição religiosa, são forçados a deixar suas casas, igrejas e comunidades, mas permanecem dentro de seu país. Conforme a Lista Mundial da Perseguição (LMP) 2024, há 278.716 cristãos deslocados em 60 países, um aumento de 120% em relação ao ano anterior.
Esses cristãos podem ser obrigados a fugir não apenas devido à perseguição religiosa, mas também devido a conflitos armados, guerras e catástrofes naturais como terremotos e inundações. Esses fatores exacerbam a vulnerabilidade dessas pessoas, que já enfrentam grandes desafios devido a sua fé.
O número alarmante de cristãos deslocados mostra a gravidade da perseguição religiosa em diversas partes do mundo. Este cenário destaca a necessidade urgente de ações humanitárias e políticas para proteger esses indivíduos.
Situação nos Países
Os cristãos deslocados contabilizados pela Portas Abertas estão presentes em 60 países. No entanto, 70% deles estão concentrados na Nigéria e em Myanmar, totalizando cerca de 100 mil pessoas em cada nação. Outros países com números significativos incluem Índia, Burkina Faso, Paquistão, Mali, Bangladesh, Níger, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Camarões, somando mais de 77 mil cristãos deslocados.
Nessas condições, os cristãos precisam improvisar suas moradias e enfrentam dificuldades extremas para obter alimentos e água. Tarefas cotidianas como ir à escola e trabalhar tornam-se impossíveis, transformando a luta pela sobrevivência em uma batalha diária em acampamentos de deslocados, tanto oficiais quanto informais.
Esses acampamentos carecem frequentemente de comida suficiente, água potável e saneamento básico, criando um ambiente propício à proliferação de doenças contagiosas. A falta de recursos básicos intensifica o sofrimento desses indivíduos já vulneráveis.
Testemunhos Impactantes
Loise, uma cristã da Nigéria, ilustra bem essa realidade. Após o assassinato de seu marido de 37 anos por extremistas fulani, ela foi obrigada a fugir com seus cinco filhos para um acampamento de deslocados. “Aqui temos dificuldades para conseguir comida, lugar para dormir e muitas outras coisas”, testemunha Loise.
A história de Loise reflete a de muitos outros 100 mil cristãos na Nigéria que vivem em constante busca por segurança, tentando escapar da violência de diversos grupos criminosos e extremistas islâmicos. Essa busca por um refúgio seguro é marcada por privações e incertezas constantes.
A realidade desses deslocados é uma prova do impacto devastador da perseguição religiosa e da violência em suas vidas, obrigando-os a abandonar tudo em busca de segurança e paz.
Deslocados na Síria
Na Síria, a invasão do grupo Estado Islâmico em 2011 forçou milhares de pessoas a deixarem suas casas e cidades. Ferial Labbad, com seu marido Ghandi e os filhos Anna Maria e Ohanes, fugiram para Latakia, deixando tudo para trás e começando do zero em uma cidade desconhecida.
Ferial encontrou apoio na igreja local. “Eles nos levaram sob as asas espiritual e financeiramente. Eles me motivaram a amar Jesus ainda mais do que eu costumava fazer antes. Nós não nos sentimos abandonados, fizeram-nos sentir amados”, testemunha ela.
Em fevereiro de 2023, quando foram atingidos pelos terremotos, Ferial e sua família novamente encontraram refúgio na igreja e apoio dos irmãos na fé. “Sou grata por podermos nos refugiar aqui. Podemos orar e adorar a Deus nesse momento desafiador. Obrigada a todos que estão nos ajudando. Vocês estão colocando os ensinos de Jesus em prática ao nos socorrer”, conclui Ferial.
Deslocados em Myanmar
Em Myanmar, 1,5 milhão de pessoas foram forçadas a deixar suas casas devido aos conflitos resultantes do golpe militar em fevereiro de 2021. Tun Maung (pseudônimo) e sua família foram obrigados a fugir duas vezes devido aos conflitos na região.
“Quando anoitece, chamamos todos para dentro de casa, trancamos as portas e as janelas, acendemos as lâmpadas e as velas e ficamos em silêncio. Às vezes, as crianças são barulhentas, tenho que lembrá-las de ficarem quietas. Como pai, me sinto mal porque sua infância é escondida e vivem com medo”, explica Tun Maung.
Mesmo sob constante ameaça, Tun Maung continua seu trabalho de encorajar outros cristãos deslocados e aqueles que vivem em áreas de conflito. Ele enfrenta assédio dos soldados e arrisca ser atingido por minas e bombas em suas jornadas.
Impacto nas Igrejas
O deslocamento dos cristãos tem um impacto direto nas igrejas locais. Essas igrejas, compostas pelos membros da comunidade de fé, veem-se obrigadas a interromper suas atividades e fechar suas portas quando todos os membros vão embora.
No Iraque, antes da invasão do Estado Islâmico, a igreja tinha em média um milhão de cristãos. Devido aos conflitos, muitos tiveram que fugir, restando agora apenas 154 mil cristãos. Além dos conflitos, a falta de empregos e a crise econômica levam muitos a deixar o país.
“Estamos trabalhando muito para preservar nossa existência. Meu grande sonho é que os jovens fiquem e se tornem o sal e a luz deste país. Nós realmente precisamos deles no futuro para levar nossa comunidade a um lugar melhor”, explica Daniel, um jovem líder cristão do Iraque.
Apoio da Portas Abertas
A Portas Abertas apoia cristãos deslocados de várias maneiras. No socorro imediato, há distribuição de alimentos, água, utensílios domésticos e itens de necessidade, como cobertores e roupas de inverno.
Além disso, os cristãos deslocados recebem acompanhamento de parceiros locais e apoio emocional, jurídico e cuidados pós-trauma. Eles também aprendem uma profissão e participam de projetos de geração de renda, recebendo investimentos para iniciar seus próprios negócios e se sustentarem.