A descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez está em discussão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), gerando polêmicas entre grupos conservadores, como os evangélicos, e movimentos progressistas. A presidente do STF, ministra Rosa Weber, votou a favor da não criminalização do procedimento, mas o ministro Luís Roberto Barroso pediu a suspensão do julgamento, que ainda não foi remarcado. Neste contexto, é celebrado o Dia de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto na América Latina e Caribe, com um ato unificado em São Paulo.
Países da América Latina, como Uruguai, Argentina, México e Colômbia, já legalizaram o aborto, seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, no Brasil, o procedimento é permitido somente em casos específicos, como estupro, risco de vida à gestante e anencefalia fetal. A discussão sobre a descriminalização é complexa e envolve questões morais e religiosas.
Para a médica Helena Paro, que trabalha há anos com aborto legal, a postura conservadora de alguns profissionais afeta o atendimento adequado às mulheres, inclusive aquelas amparadas pela lei. Ela ressalta que o aborto clandestino é o que coloca em risco a vida das mulheres, e não a legalização do procedimento. Segundo a Pesquisa Nacional de Aborto 2021, estima-se que 5 milhões de mulheres já tenham feito aborto no Brasil, sendo que muitas delas têm religião conservadora.
Movimentos feministas e mulheristas destacam que o aborto clandestino coloca as mulheres em situação de maior vulnerabilidade e defendem que seja tratado como uma questão de saúde pública. É necessário garantir que o procedimento seja realizado de forma segura, com acompanhamento médico adequado. No entanto, existem diversas barreiras, como a falta de serviços que ofereçam o atendimento necessário, objeção de consciência por parte dos profissionais e limitações como a autorização judicial.
Um relato pessoal ilustra as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que desejam interromper uma gravidez indesejada. Ísis, que teve uma gravidez não planejada aos 39 anos, buscou ajuda em seu círculo de confiança para conseguir acesso às substâncias abortivas e teve que lidar com os medos e preocupações de seu companheiro. Ela destaca que mesmo com recursos financeiros, é difícil obter o procedimento de forma segura.
O debate sobre a descriminalização do aborto no Brasil envolve diferentes perspectivas e é necessário considerar a garantia dos direitos das mulheres, o acesso à saúde e a autonomia sobre o próprio corpo. É importante que a discussão seja feita de forma consciente, levando em conta os dados e informações disponíveis, além do respeito às diversas visões envolvidas.
*Com informações da Agência Brasil