A importância do apoio das empresas para a amamentação prolongada
Menos da metade das crianças brasileiras (45,7%) são amamentadas de forma exclusiva nos primeiros seis meses de vida, segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) publicado em 2021. Uma das Metas Globais de Nutrição da Agenda 30, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), é aumentar esse número para 70% até 2030. Além disso, a maioria das crianças entre 12 e 23 meses de idade não recebe amamentação continuada (43,6%).
Para que as mulheres consigam prolongar a amamentação, é fundamental contar com o apoio das empresas onde trabalham. Isso inclui ter espaços adequados para amamentação, serem acolhidas e terem seus direitos respeitados tanto no trabalho quanto em casa. Infelizmente, nem todas as trabalhadoras têm acesso a essas condições.
A engenheira química Débora Cordeiro é uma exceção. Ela conta com uma sala de amamentação em sua indústria de alimentos. O espaço possui acesso restrito, poltronas confortáveis, iluminação adequada, uma pia para lavagem dos equipamentos e um freezer para armazenamento do leite. Débora tem uma filha de um ano e um mês e pretende continuar amamentando por pelo menos mais um ano. No entanto, espaços como esse ainda são raros no ambiente de trabalho.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a amamentação exclusiva por pelo menos seis meses e a continuação da amamentação até os dois anos de idade ou mais. Estima-se que cerca de 6 milhões de vidas de crianças sejam salvas a cada ano devido ao aumento das taxas de amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida.
Segundo a enfermeira obstetra Mylla Calefi, consultora em amamentação, amamentar é um direito humano que precisa ser encorajado, respeitado e cumprido. Ela destaca que o apoio das empresas é fundamental para a amamentação duradoura. Muitas mulheres enfrentam dificuldades ao retornarem da licença maternidade, pois a maioria dos locais de trabalho não possui espaços adequados para a ordenha e falta uma rotina de pausas durante a jornada de trabalho. Isso pode causar incômodos nas equipes.
A amamentação prolongada também auxilia na redução do número de faltas ao trabalho das mães. Além disso, fortalece o vínculo entre mãe e bebê e contribui para a saúde do bebê, prevenindo infecções, alergias e complicações de saúde no futuro, como diabetes e obesidade infantil.
A existência de salas de amamentação adequadas é fundamental. Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), esses espaços podem ser utilizados para a amamentação ou para a extração do leite, que poderá ser oferecido à criança posteriormente. A sala deve ser tranquila, confortável, sem interrupções e interferências externas, proporcionando privacidade à trabalhadora.
Algumas empresas já estão adotando medidas nesse sentido. A 3M, por exemplo, conta com salas de amamentação em suas fábricas em Sumaré (SP), Manaus (AM) e Ribeirão Preto (SP). Essas salas beneficiaram 167 trabalhadoras até o momento. A iniciativa surgiu a partir de uma demanda de funcionárias que buscavam melhores condições para amamentar seus filhos após a licença maternidade.
Além disso, o Ministério da Saúde está implantando salas de amamentação nas Unidades Básicas de Saúde. Inicialmente, o projeto piloto começará em cinco estados: Pará, Paraíba, Distrito Federal, São Paulo e Paraná. Essa iniciativa visa apoiar mães que trabalham fora, especialmente as que estão no mercado informal e não têm amparo legal.
Durante a Semana Mundial da Amamentação, celebrada na primeira semana de agosto, é importante destacar a importância desse ato e seu impacto na saúde da criança, da mulher, da sociedade e do planeta. Incentivar a amamentação e garantir condições adequadas para as trabalhadoras são passos essenciais para alcançar metas globais de nutrição.
A criação de um ambiente de trabalho acolhedor, a flexibilização da jornada e o aumento da licença maternidade são algumas das iniciativas que podem contribuir para o apoio à amamentação prolongada. É fundamental que as empresas entendam a importância desse apoio e criem espaços adequados para as trabalhadoras, fortalecendo assim o vínculo com suas funcionárias e contribuindo para um ambiente de trabalho mais igualitário, diverso e inclusivo.
*Com informações da Agência Brasil