Língua que Jesus falava ainda é mantida em cidade cristã na Síria

Polyanna Elias - Redatora na NT Gospel
4 min de leitura
Maalula, uma cidade cristã, é um dos poucos lugares no mundo onde o aramaico ainda é falado, língua usada por Jesus. Foto: Wikipedia.

A histórica cidade síria de Maalula, localizada a cerca de 60 km de Damasco, abriga algumas das igrejas cristãs mais antigas do país. Reconhecida por sua herança cultural e religiosa, Maalula é um dos poucos lugares no mundo onde o aramaico ainda é falado, língua usada por Jesus e presente em textos bíblicos.

Conflitos e Perseguições

Desde a queda do ex-presidente Bashar al-Assad no ano passado, a cidade tem enfrentado ameaças crescentes. Grupos armados estabeleceram um novo governo islâmico liderado por Ahmad al-Sharaa, e ataques contra cristãos se intensificaram, resultando na morte de centenas de pessoas. O jornal Times of Israel relata que os moradores de Maalula vivem sob constante temor de novos ataques.

O padre Jalal Ghazal testemunhou a violência de perto. Em janeiro, vândalos invadiram sua casa, refletindo a crescente hostilidade contra os cristãos. Segundo ele, essa perseguição não é novidade, pois os cristãos foram alvos frequentes durante a guerra civil que devastou a Síria por mais de uma década.

Em fevereiro, a comunidade cristã enviou uma carta ao governo exigindo proteção, mas até o momento nenhuma medida foi tomada. “Nossa cidade é uma linha vermelha. Não deixaremos que destruam nossa cultura e nossos locais sagrados”, dizia o documento.

Histórico de Conflitos

Em 2013, extremistas ligados à Al-Qaeda tomaram Maalula, obrigando milhares de moradores a fugir. Na ocasião, 12 freiras foram sequestradas e libertadas somente após o pagamento de um resgate. O regime de Assad recuperou a cidade, expulsando os muçulmanos acusados de apoiar os rebeldes.

Com a ascensão do novo governo, alguns desses moradores retornaram, buscando vingança. Desde então, cristãos denunciam saques, vandalismo e ataques contra símbolos religiosos, enquanto as autoridades permanecem inertes. “Não há garantias de segurança”, lamenta o padre Ghazal.

A ausência de policiamento agrava a situação. A delegacia local foi saqueada, e sinais da guerra ainda são visíveis por toda a cidade. Balas perfuraram imagens sagradas, mosaicos de Jesus foram queimados, e igrejas continuam danificadas.

Preservando a Fé e a Cultura

Mesmo diante da instabilidade, os cristãos de Maalula se esforçam para preservar sua fé e sua herança cultural. O padre Fadi Bargeel mantém as missas, apesar das condições precárias da igreja. Ele busca incentivar jovens a aprender aramaico, já que apenas 20% dos habitantes ainda falam a língua, a maioria com mais de 60 anos.

O comerciante George Zaarour dedica-se à preservação do aramaico, colecionando livros e documentos antigos. “Quando éramos crianças, não sabíamos árabe. O aramaico era nosso idioma principal”, explica ele. Hoje, a língua é ensinada apenas dentro das famílias.

Sammera Thabet, outra moradora, mantém sua fé inabalável. Ela acredita que a nova Síria pode ser um lugar de inclusão para os cristãos. “O Deus que nos colocou nesta terra nos protegerá”, declara.

Segundo o guiame, diante das incertezas, os cristãos de Maalula seguem resistindo, sustentados pela fé e pelo compromisso de preservar sua identidade histórica e religiosa.

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