Covid-19 tem consequências para a primeira infância nas 16 favelas da Maré

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A pandemia da Covid-19 teve um grande impacto nas crianças do complexo das 16 favelas da Maré, no Rio de Janeiro, especialmente na primeira infância, que compreende crianças de 0 a 6 anos, em termos de saúde, alimentação, educação e segurança. É o que revela o Diagnóstico Primeira Infância nas Favelas da Maré, divulgado pela ONG Redes da Maré.

Primeira infância é um período crucial para o desenvolvimento das crianças. Durante a pandemia, foram realizados 2.144 questionários com as famílias e entrevistas com profissionais de apoio à primeira infância. O objetivo foi traçar um panorama da situação de 2.796 crianças nessa faixa etária. Muitas famílias possuíam mais de uma criança nessa idade, informou a assistente social Gisele Martins, coordenadora do estudo.

De acordo com um censo realizado em 2013 pela Redes da Maré, o complexo abriga cerca de 140 mil moradores ao total. O estudo mostrou que, dentro do universo pesquisado, 54,1% das famílias tiveram dificuldades com alimentação, sendo que, em 11,8% dos domicílios, algum membro da família deixou de comer para que a criança pudesse se alimentar.

Durante a pandemia, a sociedade civil na Maré teve um papel importante em mitigar os efeitos negativos da Covid-19, com a ajuda da Redes da Maré. No entanto, ficou evidente que muitas famílias vivem em situação de insegurança alimentar devido à falta de políticas públicas adequadas, explicou a coordenadora do estudo. A Redes da Maré atendeu mais de 18 mil famílias durante a pandemia.

No que diz respeito à segurança, o relatório constatou que 62% das operações policiais ocorreram próximo a escolas e creches, afetando diretamente o dia a dia das crianças. Muitas crianças testemunharam algum tipo de violência, com os níveis mais altos encontrados nas favelas Nova Maré e Rubens Vaz. As consequências para as crianças incluíram perda de aulas, redução do desempenho escolar, restrição de circulação e prejuízos para brincar.

A violência urbana e o confronto entre as forças de segurança e grupos armados afetam o desenvolvimento das crianças e o acesso a serviços essenciais. A assistente social Gisele Martins enfatizou a importância de discutir e buscar soluções para essa realidade, buscando garantir que as crianças da Maré não vivam uma realidade diferente das demais crianças da cidade.

No campo da educação, é necessário ampliar o acesso aos espaços de desenvolvimento infantil e creches, uma vez que as políticas públicas atuais são insuficientes para atender à demanda do território. É essencial garantir que os espaços públicos estejam adequados para a presença das crianças, levando em consideração também as crianças com deficiência ou necessidades de saúde mental.

Além disso, o relatório destaca que a Maré, sendo o maior conjunto de favelas no Rio de Janeiro, precisa ter uma presença mais forte de equipamentos do campo de proteção dos direitos das crianças. São necessárias ações que garantam o acesso à infraestrutura, saneamento básico, lazer, cultura e transporte, de forma a proporcionar igualdade de oportunidades para as crianças da Maré.

As políticas públicas também devem considerar as formas de cuidado adotadas pelas favelas e periferias, que são majoritariamente lideradas por mulheres. É importante que o Estado garanta direitos e apoie essas formas de cuidado, além de garantir o acesso à saúde e a equipamentos públicos.

Na área da saúde, o relatório recomenda ampliar o atendimento, disponibilizando mais unidades básicas e especialidades médicas no interior das favelas. Também é importante investir em programas de formação nas Clínicas da Família da Maré, além de apoiar a vigilância em saúde no território.

Em resumo, é fundamental que sejam implementadas políticas públicas que atendam às necessidades das crianças da Maré, principalmente na primeira infância. A pandemia evidenciou ainda mais as desigualdades existentes e a importância de garantir condições adequadas de vida para todas as crianças.



*Com informações da Agência Brasil

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